Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

More than words.

More than words.

Recovery - 08

tumblr_nb4gq6HZWJ1r6j154o1_1280.jpg

 

O silêncio tomou conta dos dois jovens, depois de Ashton proferir aquelas palavras. As quais tinham deixado a rapariga bastante pensativa, perguntando-se como teria sido a vida de Ashton, durante todos aqueles anos em que tinham perdido contacto. No tempo em que ainda eram vizinhos, ele era já um rapaz bastante rebelde, fumava e dava-se com pessoas que faziam Valerie franzir o sobrolho. Como tal, naquela altura, quase se podia prever que ele ia seguir por caminhos menos correctos, e que o levariam a chegar ao estado em que se encontrava hoje.
A cabeça de Ashton estava igualmente repleta de pensamentos, porém, nada tinham a ver com aqueles que atravessavam a mente de Valerie. O rapaz, ponderava em perguntar à rapariga que se encontrava sentada ao seu lado, o que tinha realmente acontecido com Ivy, aquilo deixava-o ruído de curiosidade, em especial devido ao pouco que Valerie já lhe havia dito. Contudo, a maneira como ela lhe tinha falado da outra vez, levava-o a manter a boca fechada, guardando assim para si todas as perguntas que se tinham formado na sua cabeça.

Pequenas gotas de chuva, começaram a cair do céu, vindo em direcção aos corpos dos dois jovens que ali estavam. Assim que sentiu as gotas de água molharem o seu rosto, Valerie abanou a cabeça, e suspirou, desejando poder ficar ali, a levar com a chuva sobre si mesma. Fazendo-a sentir-se mais normal, já que era algo que ela costumava fazer quando estava em sua casa. Ia para o jardim, em conjunto com Ivy, abriam os braços e deixavam que a chuva caísse sobre elas. No entanto, agora, tudo isso era algo que parecia fazer parte da vida de outra pessoa, já que a sua vida se resumia a estar naquele hospital psiquiátrico.

- Vamos para dentro. – foi o rapaz quem quebrou o silêncio, proferindo estas palavras. – Se nos vêem molhados, podem desconfiar de algo. – acrescentou, seguidamente, em jeito de explicação.

Valerie apenas assentiu com a cabeça, levou uma mão ao seu rosto, e limpou do mesmo alguns vestígios da chuva que eram já visíveis. De seguida, levantou-se do chão frio, e como Ashton já havia feito o mesmo, ela começou a seguir o rapaz, em direcção à porta por onde os dois tinham saído.

Antes de voltar a entrar no enorme edifício, a rapariga, olhou uma última vez para trás, deixando que os seus olhos absorvessem o máximo que podiam, pois não sabia quando teria de novo oportunidade de estar ao ar livre.

- O que é que vocês estão aqui a fazer? – uma voz soou mesmo à frente deles, fazendo com que os dois congelassem no lugar onde se encontravam. Os seus corações começaram a bater mais rápido do que o normal.

Ashton engoliu em seco, deixando depois que aquela porta se fechasse atrás deles. O clique da mesma a trancar-se, foi a única coisa que se podia ouvir naquele momento, já que as palavras tinham desaparecido da boca dos dois, visto nenhum saber o que responder àquela enfermeira, que olhava ainda para eles, aguardando ainda uma explicação para o sucedido.

Merda, merda, merda. Eram as palavras que ecoavam na cabeça de Valerie, enquanto ao mesmo tempo ela tentava arranjar uma desculpa para aquilo, no entanto, nada do que lhe vinha à cabeça era suficientemente credível. A verdade estava fora de questão, claro. Não podiam simplesmente dizer que Ashton conhecia aquela saída, e que se aproveitava disso para sair para o exterior do hospital.

- A Valerie estava a sentir-se mal disposta, e bem… estávamos a passar por aqui, e calhou de eu ver esta porta. Tentei abri-la e como consegui, decidi levá-la lá fora para ela apanhar um pouco de ar. Sabia que lhe iria fazer bem e… - ele apontou para Valerie, um sorriso presente nos cantos dos seus lábios, à medida que ele ia falando. - … eu estava certo. Ela já está com muito melhor ar. Eu fiquei mesmo preocupado, peço imensa desculpa! Eu sei que não devíamos ter saído, mas foram apenas uns minutos.

A mulher olhava de um para outro, os seus olhos movendo-se, como se quisesse ter a certeza do que estava a ouvir. Ambos perceberam quando ela se descontraiu e seguidamente, acabou por deixar que os cantos dos seus lábios subissem num discreto sorriso.

- Tudo bem. Desde que não volte a acontecer. Da próxima vez procurem uma enfermeira, que ela tratará do assunto da melhor forma.

Ambos assentiram com a cabeça, repetidas vezes, e depois ficarão a olhar para ela, quando virou costas e deu um passo em frente. No entanto, ambos prenderam a respiração quando a enfermeira rodou nos calcanhares e ficou de novo de frente para eles.

- Valerie, não te esqueças que mais logo tens uma consulta com o psicólogo. – proferiu a mulher e voltou novamente a virar costas, começando agora a avançar pelo corredor.

Valerie respirou fundo e passou os dedos pelo seu rosto, onde ainda se encontrava alguns vestígios da chuva.

- Merda, que susto. – murmurou, mais para si própria do que para o rapaz que estava igualmente aliviado. – Tens imenso jeito para mentir. – ela constatou, quando os seus olhos encontraram por fim os dele.

Ashton estava a sorrir, ao mesmo tempo que encolhia os ombros. – Já o tive de fazer imensas vezes. Não é difícil.

A rapariga juntou as sobrancelhas, percebendo, apesar de ele não o ter dito, de que Ashton já tinha mentido por diversas vezes não só aqui, no hospital, mas também quando estava ainda fora do mesmo.

Bem, ela também já tinha mentido por diversas vezes, em especial, durante este último ano, desde o primeiro instante em que se havia cortado. Depois disso, as mentiras saiam com tanta naturalidade da sua boca, que por vezes, até ela começava a acreditar nas mesmas. Talvez estivesse mesmo a ficar maluca, e o facto de agora estar aqui não fosse assim tão descabido.

Valerie ouviu o seu estômago fazer barulho, como se estivesse a pedir por comida, e ela chegou à conclusão de que deveriam estar agora na hora do almoço. Mordiscou de forma discreta o seu lábio, quando percebeu que Ashton estava ainda a olhá-la e depois endireitou-se, colocando um sorriso, que ela esperava parecer verdadeiro, nos seus lábios.

- Eu vou para o meu quarto. – ela disse. Não queria a companhia do rapaz durante a sua refeição, continuava com a ideia de que não queria ter amigos. Queria continuar sozinha, e manter-se longe daquele rapaz, que parecia querer manter-se perto dela. Mas ela não podia deixar que isso acontecesse, não podia deixar que aqueles momentos, em que estavam juntos, os aproximassem. Quanto mais próximos eles ficassem, pior era, ela sabia isso demasiado bem. – E obrigada, por… - ela juntou as sobrancelhas, tentando arranjar as palavras adequadas para dizer, no entanto, não encontrava nenhumas. - … por me teres levado até lá fora. – ela acabou por concluir, encolhendo ligeiramente os seus ombros, sabendo que não tinha sido aquela a escolha certa de palavras. Mas com toda a certeza ele teria entendido o que ela queria dizer.

- Tudo bem. – ele disse apenas, passou os dedos nos seus cabelos, que se encontravam meio húmidos devido à chuva, colocou depois ambas as mãos nos bolsos das suas calças de ganga e o seu olhar desceu até ao chão, quando ambos ficaram apenas em frente um do outro, sem saberem o que mais dizer.

- Hm até depois então. – Valerie disse, colocando uma mecha do seu cabelo loira atrás da orelha.

- Até depois. – proferiu Ashton e nesse mesmo instante, já Valerie estava a avançar pelo corredor, em direcção ao seu quarto.

 

- Ashton! Onde é que tu andaste? – a minha mãe perguntou, assim que eu entrei no interior acolhedor da nossa casa. A minha visão estava completamente desfocada, devido às lágrimas que estavam por trás dos meus olhos, prestes a caírem. Não queria encarar a minha mãe, não queria falar com ela, pois sabia que no exato momento em que eu abrisse a boca, eu iria desabar e nada, nem ninguém, me iria conseguir ajudar.

- Está tudo bem. – afastei-me em direcção às escadas que me levariam ao andar superior. Tentava esconder o meu rosto dos olhos curiosos da minha mãe, não queria que ela visse os meus olhos, neste estado. Não queria que ela percebesse que eu estava drogado e fora de mim. O meu punho cerrou-se no corrimão das escadas, enquanto eu andava com passos lentos, tentado segurar o meu corpo, de maneira a manter este de pé, pelo menos até eu estar na privacidade do meu quarto.

- Ashton. – a voz dela, mesmo atrás de mim, fez-me engolir em seco. Imagens do que tinha acontecido ainda há umas horas atrás, preenchiam a minha mente. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, quando eu não consegui mais evitar as mesmas.

- Está tudo bem. – repeti, de forma rouca e continuei a subir as escadas, desejando que ela ficasse onde estava. – Amanhã falamos. Estou demasiado cansado agora. – não sei como consegui dizer tantas palavras juntas, mas a verdade é que consegui e, felizmente, aquilo pareceu convencer a minha mãe.

Ela limitou-se a murmurar um baixo boa noite deixando-me depois entregue aos meus pensamentos.

 

Eu adoro este flashback do final do capítulo! Alguém tem alguma teoria ou assim do que aconteceu para o Ashton estar assim? Posso dizer que aconteceu algo, e esse algo só será revelado daqui a muitos capítulos (por acaso estou prestes a escrever esse capítulo!). E esse algo também tem a ver com o porquê de o Ashton ter ataques de pânico. Olhem tentem adivinhar, mas espero que ninguém descubra ahahah. E caso alguém descubra eu não vou dizer nada. Ou melhor, não vou dizer nada quer descubram ou não. 

Espero que tenham gostado do capítulo!

6 comentários

Comentar post