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More than words.

More than words.

Recovery - 26

If only

 

Os dias iam passando e tal como Valerie tinha imaginado, estar ali dentro agora era ainda pior. Ela passava os seus dias entre o quarto, o refeitório e a sala de convívio e todo esse tempo era passado sozinha. Antes ficava na companhia de Ashton, mesmo que muitas vezes não a desejasse e apenas quisesse ficar sozinha, mas agora mesmo que quisesse a companhia de alguém ela não a tinha.

O tempo passava ainda mais lentamente do que antes, os dias arrastavam-se uns atrás aos outros e ela já nem se dava ao trabalho de tentar perceber quantos dias se tinham passado, já eram tantos que o mais certo era perder-lhes a conta caso os tentasse contar.

Algumas vezes via Ashton num corredor ou em algum outro sítio, e quando os olhares dos dois se cruzavam, aparecia sempre alguém que a levava para outro lugar longe do rapaz. Ela sabia que Ashton estava a ter uma espécie de castigo por, supostamente, ser o responsável pela fuga e a verdade era que aquilo partia um pouco mais o coração de Valerie. Ele não tinha culpa nenhuma naquilo, fora ela quem insistira para fugir, mas agora era ele quem estava a pagar as consequências dos atos dela.

A rapariga avançou pelos corredores, que continuavam a parecer não ter fim, e enquanto andava ia olhando para as placas azuis que se encontravam ao lado de cada porta e que informavam o que era cada uma das divisões. Ela parou de andar quando chegou àquela que lhe interessava e que andava à procura e bateu lentamente na porta. Esperou até ouvir uma voz do outro lado e depois abriu a porta e entrou no interior daquele escritório.

- Fui eu que tive a ideia de fugir e pedi ao Ashton para me ajudar. – ela apressou-se logo a dizer, sem deixar que a mulher que estava à sua frente tivesse tempo de abrir a boca para lhe perguntar o que é que ela estava ali a fazer.

Valerie tinha passado os últimos dias sempre a pensar naquilo, a sentir-se mal por Ashton estar a ser culpado de algo que ele não tinha culpa, a culpa era dela e por isso o mais certo era ser ela a sofrer as consequências.

- Valerie, não precisas de estar a dizer isso apenas para o protegeres.

A rapariga de cabelos claros abanou a cabeça e deixou que um longo suspiro fosse expelido pelos seus lábios.

- Eu não estou a tentar protege-lo, eu estou a dizer a verdade. Fui eu e não ele.

- Valerie…

- Ele é que está a tentar proteger-me! Isto não é justo, fui eu que lhe falei, foi por minha culpa que nós fugimos. – ela insistiu.

- Não precisas de fazer isso, a sério. – a mulher disse num tom de voz cansado e exasperado e Valerie sabia que não lhe ia adiantar de nada estar a insistir naquilo, porque nunca ninguém iria acreditar nela.

- Não é justo. Espero que um dia se arrependam do que nos estão a fazer! – ela protestou e sem esperar qualquer resposta, virou costas e abandonou aquela divisão, tendo a atenção de bater a porta com toda a força antes de começar a percorrer os corredores de novo. Já que a tratavam como se ela fosse uma maluca, talvez ela pudesse começar a agir como uma também.

 

“ 08 de Junho, 2015

Faz hoje um ano que tu morreste. Um ano. Como é possível que já se tenha passado tanto tempo? Continuo a não conseguir acreditar que estás morta, ainda parece algo demasiado irreal. Continuo à espera de ouvir a porta abrir e ver-te, ouvir as tuas gargalhadas e sentir os teus braços em volta do meu corpo para me tentares consolar do ano que já se passou.

É tão difícil viver sem ti, nunca tinha pensado como seria se um dia ficasse sem ti, porque na verdade era algo que eu nunca pensei que pudesse acontecer. Mas aconteceu e eu continuo a não saber como se consegue viver sem a pessoa de quem mais gostamos no mundo. Acho que nunca ninguém pensa nestas coisas até elas acontecerem. Mas mesmo que pensássemos, nunca estaríamos preparados, não achas?

Ainda estou viva e não sei como, porque eu continuo a querer morrer, e essa minha vontade cada vez se torna maior. Desculpa-me por pensar desta forma e desculpa-me por ser tão fraca, por favor.”

 

 

Ashton sentia-se cada vez mais cansado de tudo aquilo, agora nem sequer podia ter a companhia de Valerie, que nos últimos tempos tinha sido a única coisa que o tinha distraído da porcaria de vida que ele tinha. As drogas e o álcool tinham até começado a ficar escondidos num recanto da sua mente, porém parecia que agora todos os pensamentos relacionados com essas coisas tinham voltado a apoderar-se da sua mente. Ele odiava aquilo e odiava ainda mais saber que não podia fazer nada.

Estava sempre a ver Valerie contudo esta desaparecia sempre de forma rápida do seu campo de visão, como se o facto de eles se verem um ao outro fosse uma espécie de crime. Será que todos ali pensavam que eles eram assim tão burros ao ponto de tentarem fugir de novo? Estavam muito enganados.

Aproveitando que estava sozinho, Ashton caminhou pelos corredores, sempre de forma atenta para ninguém o ver, até ao quarto que pertencia a Valerie. Já se tinham passado muitos dias desde que eles tinham voltado para o hospital e desde essa altura que não tinham voltado a falar. Ashton queria pedir-lhe desculpa de novo, queria uma oportunidade para lhe contar tudo o que tinha acontecido, queria que ela o desculpasse, queria ficar bem com ela, sentia a falta de Valerie.

Depois do acidente ele tinha acabado por ir a um psicólogo, coisa que os pais nem sequer tinham ficado a saber, porque isso implicava contar-lhes do acidente e o rapaz tinha medo. Muito medo. As consultas com o psicólogo não o ajudaram muito porém serviram para Ashton desabafar, ele sentia uma necessidade tão grande disso naquela altura. Ele tinha contado tudo e o homem para quem ele tinha falado durante horas seguidas tinha apenas dito a Ashton que ele não tinha culpa. Não tinha a culpa toda, porém o rapaz achava sempre que sim e nada nem ninguém iria conseguir tirar-lhe isso da cabeça.

Ashton parou em frente da porta do quarto de Valerie e bateu duas vezes à mesma, aguardou uns minutos e como não obteve resposta, ele voltou a bater mais algumas vezes. Apesar de ter depois percebido que ela não estava ali, ele continuou por mais uns bons minutos à porta daquele quarto. 

Esses longos minutos de nada serviram, porque ela não aparecia e então Ashton saiu dali de novo.

 

Os dias a seguir ao acidente foram um autêntico pesadelo. Eu não conseguia tirar aquela imagem da minha cabeça por mais que quisesse que isso acontecesse. A culpa tinha-se apoderado de todo o meu corpo e haviam até alturas em que eu me sentia paralisar. Parava de fazer o que quer que estivesse a fazer no momento e era capaz de ficar horas apenas a olhar para o vazio. A minha mãe acabou por perceber que algo não estava bem, visto que isso era bastante óbvio, mas por mais que ela tentasse perguntar-me o que se passava, eu limitava-me a fugir a todas as suas perguntas.

Eu não conseguia ir sair à noite com os meus amigos, eu tinha medo que tudo aquilo voltasse a acontecer, apesar de as probabilidades disso serem mínimas. Para além disso também tinha medo que fossemos apanhados e eu não queria que isso acontecesse. 

As noites eram horríveis e eu não conseguia dormir, pois sempre que fechava os olhos eu revivi-a tudo aquilo de novo. Sentia-me ficar em pânico e sem ar. Mais tarde acabei por perceber que aquele acidente foi a causa do início dos meus ataques de pânico, que com o passar dos dias iam-se tornando cada vez piores e mais frequentes. Era horrível. Eu tentava refugiar-me no álcool e nas drogas, porém no estado em que eu estava já nem isso me ajudava e eu apenas ficava pior. Eu estava a cair num buraco sem fundo e sentia que nada nem ninguém me iria conseguir tirar dali. A minha vida tinha deixado de fazer sentido, eu sentia-me completamente perdido e só queria que tudo voltasse a ser como era antes do acidente. 

Os meus pais começaram a achar que tudo aquilo se devia às drogas e ao álcool e acabaram por me pôr num centro de desintoxicação. E eu não protestei quando eles fizeram isso, eu sabia que era o melhor para mim, eu achava que depois teria a minha vida normal de volta, porém isso não aconteceu. Quando saí de lá consegui manter-me afastado da má vida por uns tempos no entanto, os ataques de pânico continuaram e eu voltei a refugiar-me nas drogas e no álcool. Os meus pais já não sabiam o que fazer comigo e eu sinceramente também não. Foi nessa altura que surgiu a hipótese do hospital psiquiátrico e apesar de por dentro eu ter gritado com todas aa forças que não queria ir para lá, a verdade é que fiquei calado.

Eu não sabia o que fazer, só queria esquecer aquela parte da minha vida, queria esquecer o acidente, queria afastar-me das drogas e do álcool e queria que os ataques de pânico parassem.

Quando eu e a Valerie fugimos do hospital, por momentos em comecei a achar que a minha vida estava a começar a fazer algum sentido. O acidente estava agora num recanto esquecido da minha mente, as drogas e o álcool também estavam fora da minha vida e os ataques de pânico também já não andavam a acontecer. 

Mas quando Valerie ouviu aquela conversa ao telefone, eu senti a minha vida desmoronar-se outra vez. Senti todos aqueles progressos irem por água abaixo. Senti que tinha perdido Valerie, a única pessoa que, mesmo não sabendo, me tinha ajudado imenso.

 

Aqui está o penúltimo capítulo! Nem acredito que isto está quase a chegar ao fim. Bem, decidi colocar aqui mais um flashback do Ashton, isto porque vocês sabem muito sobre a vida de Valerie, já que a história toda se focou sempre mais nela do que no Ashton, e então achei que deviam saber também mais coisas sobre ele, em especial como ele se sente com todas estas coisas.

Bem, no fim de semana eu publico o último capítulo, e depois na próxima semana o epílogo!

Recovery - 25

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Depois de ouvir Valerie a dizer que ia procurar Harry, Ashton não conseguiu ficar parado e deu por si a entrar num táxi mesmo atrás dela. Algo lhe dizia que aquilo não era nada boa ideia e infelizmente ele estava mesmo certo.

Ele abanou o seu corpo, tentando soltar-se das mãos da pessoa que tinha surgido por trás dele mas de nada lhe servia, pois aquela pessoa era muito mais forte do que ele. E para além disso Ashton sabia que se fugisse não conseguia ir muito longe. Aquela rua devia estar naquele momento cheia de pessoas preparadas para os apanharem. Os seus olhos continuaram focados em Valerie, que estava naquele momento a ser levada para o interior do carro, foi obrigado depois a andar quando começou a ser empurrado também na direcção daquele automóvel.

Valerie desviou o seu olhar do rosto de Ashton quando este foi, praticamente, empurrado para o interior do carro onde ela já se encontrava. Olhando pela janela ela viu Harry ainda no passeio em frente da sua casa e naquele momento ela jurou a si mesma que nunca mais iria falar para aquele rapaz. 

- Estás bem? - ela ouviu a voz de Ashton mesmo ao lado dela o que a fez olhar novamente na direcção do rapaz de olhos esverdeados. A sua boca manteve-se fechada, ignorando assim a pergunta dele. Ainda não se tinha esquecido que a culpa de Ivy estar morta era de Ashton e ela sabia que nunca se iria esquecer desse pormenor que para ela fazia toda a diferença.

Como é que podia ter-se deixado aproximar e habituar tanto à presença de Ashton? Apesar de ela não querer, tornava-se difícil não falar para ele. Estava habituada a passar todo o seu tempo com aquele rapaz, habituada a ele ser a única pessoa em quem ela podia confiar. Mas será que ainda podia? E o que é que ele estava ali a fazer? Podia muito bem ter continuado escondido e deixado a rapariga lixar-se sozinha. Além disso, Valerie sabia que se Ashton quisesse ele conseguiria fugir por muito mais tempo, quem sabe para sempre. Mas ele estava ali, tinha-a seguido por um qualquer motivo que ela desconhecia e ainda se estava a preocupar com ela, depois de ela ter sido a culpada de serem apanhados.

O carro parou ao fim de uns minutos e Valerie suspirou ao ver a fachada do hospital psiquiátrico do outro lado da janela. Sempre tinha tido a esperança de nunca mais ter de olhar para aquele lugar, porém agora tudo tinha ido por água abaixo. E se antes já era mau estar ali, agora seria ainda pior, as atenções e os olhares colocados sobre eles seriam ainda mais. Ele não teriam sossego nenhum, pois todas as pessoas ali dentro iam estar à espera que eles fossem tentar fugir de novo e não iriam nunca deixar que isso fosse acontecer.

Quando as portas do carro se abriram eles foram obrigados a sair do mesmo, e sem serem largados foram ambos levados para o interior do hospital. O cheiro característico do mesmo entranhou-se no nariz de Valerie e ela só queria começar a chorar, como se isso pudesse descarregar toda a tristeza que invadia o seu corpo.

- Valerie! - a rapariga ouviu a voz familiar da mãe e só depois o seu olhar encontrou a figura da mulher que se tinha agora aproximado dela. O pai também lá estava, e Harry, e os pais de Ashton, e imensas enfermeiras e médicos. Toda a gente parecia estar ali.

- Onde é que estiveram? - ouviu alguém perguntar e quase lhe apeteceu rir pela estupidez daquela pergunta, como se algum deles fosse dizer onde tinham estado todo este tempo.

- Eu não quero mais este rapaz perto da minha filha. - a voz grossa do pai de Valerie fez-se ouvir de seguida.

- Espero que mantenham este delinquente longe dela.

- O meu filho não é nenhum delinquente! Aposto que a ideia de fugir foi dela.

- Podem todos calar-se?? - gritou Ashton, fazendo a sua voz sobressair por cima de todas as outras e fazendo também com que todos os rostos se virassem para ele. - A culpa foi minha, sim. Fui eu que tive a ideia e planeei tudo para fugirmos. A Valerie não tem culpa de nada, se querem culpar alguém, culpem-me a mim. A culpa de tudo é minha. - Ashton já nem sabia do que estava a falar, já não sabia se estava apenas a falar da fuga deles ou se estava também a falar da morte de Ivy. - A culpa de tudo é minha. - ele repetiu, sentindo algumas lágrimas quererem chegar aos seus olhos, mas estavam ali tantas pessoas que ele fez um enorme esforço para as evitar. Ele não era fraco. Não era.

Valerie engoliu em seco e abriu a boca para falar e dizer que tinha sido ela, mas as palavras pareciam ter fugido da sua boca e a única coisa que ela conseguiu foi começar a chorar quando começaram a levar Ashton sabe-se lá para onde.

Ela sentia-se perdida, não sabia mais o que fazer, queria que todas aquelas pessoas se calassem e desaparecessem. Estava farta de todas elas, estava farta da vida que tinha e que a cada dia que passava só ficava pior. Ela queria alguém, uma única pessoa em quem pudesse confiar. Alguém que estivesse sempre com ela, alguém que lhe dissesse que tudo ia ficar bem, mesmo ela sabendo que isso não era verdade. Ela só queria não se sentir sozinha e tão perdida. Ela queria Ashton de volta, o Ashton com quem ela se dava bem antes de ela ouvir aquela maldita conversa ao telefone.

- Valerie? - a voz da mãe despertou-a daqueles pensamentos e ao invés de a rapariga olhar para ela, apenas se limitou a andar uns passos para trás de maneira a manter-se afastada. Ela manteve o seu olhar baixo, desejando apenas que a tirassem dali.

- Vamos mantê-los afastados um do outro. - ela ouviu uma enfermeira dizer e logo depois alguém segurou no seu braço começando a guiá-la para fora dali.

Ela nem se deu ao trabalho de olhar para a mãe, ou para o pai ou até mesmo para Harry. Ela não queria mais olhar para as pessoas que estavam a estragar cada vez mais a sua vida. Como é que eles eram capazes de pensar que estar ali fechada era melhor para ela? Será que não percebiam que tudo ficava pior ali? Estar ali dentro só a fazia querer cada vez mais desistir da vida e não o oposto. Mas claro que ninguém queria saber disso e ninguém lhe daria ouvidos, porque agora na cabeça de todas as pessoas ela não passava de uma maluca.

 

Valerie deixou de a levassem ao longo daqueles corredores que ela já conhecia e entrou de seguida para o quarto que ainda lhe pertencia e que estava igual a como estava da última vez que ela tinha estado ali. Ela deixou o seu corpo cair sobre a cama, fechou os olhos e desejou com todas as suas forças estar num outro lugar que não ali. Mesmo sabendo que isso não ia acontecer, ela continuou a desejá-lo, porque talvez fosse essa a única maneira de ela conseguir sobreviver ali dentro: desejar com todas as forças que tudo fosse diferente.

 

“ 15 de Maio, 2015

Os nossos pais ultimamente andam sempre a falar em internar-me num hospital psiquiátrico e nem imaginas o quanto me dói sempre que eles falam disso. Eu não quero ir para um lugar daqueles, nem sequer me consigo imaginar lá. Será horrível, Ivy. A minha vida estará completamente acabada e o pior de tudo é que eu sei que não posso fazer nada para que eles mudem de ideias.

As coisas cada vez fazem menos sentido para mim. Eu não quero mais continuar a viver, não tenho mais forças para continuar. Só queria que me acontecesse o mesmo que te aconteceu a ti, ou então gostaria de poder voltar atrás no tempo e trocar de lugar contigo. Tenho a certeza de que se estivesses no meu lugar, serias muito mais forte do que eu alguma vez serei.”

 

Já estou de volta a casa, finalmente, e portanto nos próximos dias haverão várias publicações, porque quero acabar de publicar esta história na próxima semana.

Amanhã irei publicar a sinopse da minha nova história no wattpad, mas na altura eu faço um post sobre isso no meu outro blog.

Recovery - 24

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Valerie apressou o seu passo não só numa tentativa de se manter o mais afastada possível de Ashton, como para sair dali o mais rápido que conseguia. As lágrimas já tinham parado de correr pelo seu rosto e neste momento apenas uma enorme raiva e ódio se apoderava dela. Sentia tanta raiva de Ashton que só queria bater-lhe e gritar-lhe na cara o quanto o odiava.

Aquelas palavras que ele tinha dito ao telefone ainda continuavam a martelar na sua cabeça, repetindo-se tantas vezes que Valerie só queria parar de pensar naquilo. Queria que aquelas palavras desaparecem e queria parar de se sentir assim. Ela odiava aquela sensação e principalmente odiava o facto de nunca conseguir estar bem. Quando as coisas já estavam más e ela pensava que não era possível piorarem, elas acabavam sempre por piorar.

Ela correu para a rua, quase se metendo à frente de um táxi que estava a passar, pois não queria perder mais tempo ali à espera de outro. Entrou no interior do mesmo e rapidamente deu a morado de Harry ao homem que conduzia aquele carro. Naquele momento o seu coração batia bem mais depressa do que era normal, por causa do que estava prestes a fazer.

Ela não podia ficar sozinha por ali, sem ninguém para a ajudar. Ela não era forte o suficiente para aguentar tudo aquilo sozinha, se tinham conseguido fugir tinha sido tudo graças a Ashton e agora que não estava mais com ele, Valerie sabia que não conseguiria ir muito mais longe sem ser apanhada. Claro que os pais estavam fora de questão, eles iriam logo a correr levá-la novamente para aquele hospital e isso era o que Valerie menos queria. Claro que poderia recorrer a qualquer um dos seus amigos, que tinha a certeza que todos estariam dispostos a ajudá-la mas ela sabia que Harry gostava mais dela do que os seus amigos e portanto a disposição dele para a ajudar era, com toda a certeza, muito maior. Ela sabia que Harry faria tudo por ela, mesmo depois da maneira estúpida como ela lhe tinha falado da última vez que se tinham visto.

O táxi parou ao fim de uns longos minutos e olhando pela janela ela vislumbrou a enorme casa onde o rapaz vivia. Há imenso tempo que já não vinha ali, nem ali nem a nenhum lugar perto dali. Aquilo fazia-a lembrar-se do quanto os seus últimos meses tinham sido horríveis.

Ela pagou ao taxista e depois saiu do carro, fechou a porta e rapidamente se apressou a caminhar até à porta de entrada da casa de Harry. Só esperava que fosse ele quem viesse abrir-lhe a porta.

Valerie tocou à mesma e de forma nervosa ficou à espera que alguém aparecesse.

- Valerie? – os olhos de Harry estavam mais arregalados que o normal e ele falou também num tom de voz mais alto do que o normal quando depois de abrir a porta os seus olhos se depararam com Valerie à entrada da sua casa.

- Harry… - ela sussurrou sentindo, novamente, as lágrimas quererem chegar aos seus olhos. Ela quebrou a curta distância que os separava um do outro e abraçou-se a Harry, apertando-o para si, como que quisesse de uma forma ou de outra sentir-se protegida nos braços do rapaz. Ela queria proteger-se do mundo que a rodeava, ela necessitava ser protegida.

- O que estás aqui a fazer, Valerie? – ele perguntou, apertando também a rapariga contra si.

Ela abriu a boca preparando-se para lhe contar tudo o que tinha acontecido, porém mesmo no último instante ela fechou-a novamente. Podia contar-lhe tudo, como tinham fugido do hospital, onde tinham estado, o que tinham feito nas semanas anteriores, podia até contar-lhe o que tinha descoberto sobre Ashton. Contudo, algo lhe dizia que era melhor seguir pelo caminho mais fácil, e portanto foi exactamente isso que ela fez.

- Eu chateei-me com o Ashton e não quero mais estar com ele. Ajuda-me, por favor. – ela pediu implorando ao mesmo tempo que se afastava ligeiramente dele para dessa forma poder olhar para os olhos castanhos do rapaz.

O contato entre os dois foi quebrado depois de Harry a puxar para o interior da casa e fechar a porta atrás de si.

- Vou levar-te ao hospital. – ele disse depois de começar a andar para uma outra divisão.

Os olhos de Valerie arregalaram-se e ela sentiu o seu coração cair-lhe aos pés depois de ouvir aquelas palavras.

- O quê? – ela perguntou esperando muito sinceramente ter ouvido mal, mesmo tendo a certeza que não tinha sido esse o caso.

- Vou levar-te de volta ao hospital, Valerie. Tu não devias ter fugido, sabes?

Ela engoliu em seco e virou-se para trás, para a porta, rodou a maçaneta da mesma porém apercebeu-se logo nesse momento de que a porta estava fechada à chave. Harry tinha-a trancado para que ela não conseguisse fugir dali.

Como é que era possível ela acabar por se enganar em relação a todas as pessoas? Como é que continuava a confiar nas pessoas, mesmo naquelas que era suposto fazerem tudo e mais alguma coisa por ela? As lágrimas começaram a correr a fio pelo seu rosto e ela só queria, mais uma vez, desaparecer. Queria morrer de uma vez. Queria que tudo acabasse. Estava farta de sofrer, era uma desilusão após a outra e ela dava por si agora a perguntar quantas desilusões uma só pessoa conseguia suportar.

- Harry! – ela começou a correr na direcção de onde ele tinha ido. Os seus olhos encontraram-se por fim com os do rapaz. – Não me faças isto, por favor. – ela pedia, com as lágrimas a cair de forma descontrolada pelas suas bochechas.

- Valerie… - Harry aproximou-se dela, colocando uma mão de cada lado do seu rosto. – Não devias ter fugido. Anda toda a gente à vossa procura, e sabes bem que não iam conseguir fugir para sempre. Tens de estar no hospital, tu sabes que não estás bem e estarás melhor lá. Agora diz-me, por favor, onde está o Ashton.

Valerie começou a abanar a cabeça de um lado para o outro e empurrou de seguida Harry da beira dela. Só queria distância dele, assim como tinha querido distância de Ashton.

- Pensei que gostavas de mim Harry. Pensei que estavas apaixonado por mim. – ela murmurou.

- E estou, e é por isso que estou a fazer isto, Valerie. – ele murmurou de igual forma.

- Não, se tu gostasses de mim a sério não me farias isto. Se gostasses de mim a sério farias tudo o que eu quisesse e não me levarias de volta para aquele inferno. Sabes o quanto é horrível estar lá? Sabes o quanto estar lá me deixa maluca? Sabes que a minha vontade de morrer enquanto estou lá só fica maior? Sabes Harry? – ela gritou estas últimas palavras e limpou de seguida as lágrimas que continuavam a cair, por muito que ela quisesse impedir isso de acontecer.

- Onde está o Ashton? – ele perguntou parecendo ignorar todas as coisas que Valerie lhe tinha dito, e isso só fazia a rapariga ficar ainda com mais raiva dele.

- Eu não te vou dizer. – ela disse de forma rude.

Harry abanou a cabeça e de seguida segurou num dos braços de Valerie, começando a puxá-la com ele para a rua. Valerie tentou protestar, dizer que ele a estava a magoar, implorar-lhe mais uma vez para ele não fazer aquilo, porém nada do que ela dizia parecia detê-lo. Harry estava determinado a levá-la novamente para o hospital e Valerie só sabia que naquele momento o estava a odiar.

Quando a porta foi aberta, Valerie viu estacionado na rua um carro que não estava lá antes e dentro do mesmo estavam algumas pessoas. Ela engoliu em seco quando percebeu que Harry tinha ligado para alguém a dizer que ela estava ali.

O seu olhar foi de seguida dirigido para o passeio que ladeava aquela estrada quando viu uma figura surgir ao fundo do mesmo. Os seus olhos depararam-se com Ashton que devia estar escondido num qualquer lugar até ela aparecer no seu campo de visão. Valerie queria gritar-lhe para ele fugir, mas era já tarde demais, pois no instante seguinte alguém surgiu por trás do rapaz loiro, segurando-o e não o deixando escapar.

 

“ 04 de Maio, 2015

Os meus amigos estão todos a começar a ficar estranhos… ou melhor, eles dizem que eu é que estou estranha e talvez eles tenham razão. Recuso-me a passar tempo com eles, cada vez me afasto mais e, por mais que eu tente explicar-lhes eles não conseguem entender os meus motivos para me estar a afastar. Eles não percebem que me afasto por gostar demasiado deles. Se me afastar tenho a certeza que depois não irá custar tanto quando tiver de os perder. Tu entendes-me?”

 

E pronto... as coisas continuam a correr mal... 

Olhem não sei o que dizer, neste momento estou de férias e neste momento já estou cheia de saudades do meu computador!

Tenham um bom resto de semana, dia 31 eu volto a publicar!

Olhem não se esqueçam que isto está a chegar ao fim, já só faltam mais 3 capítulos mais o epílogo e omg, estou ansiosa que acabe.

E surpresa: quando voltar das férias vou publicar (no wattpad apenas) a sinopse da minha história nova!

Beijinhos.

Recovery - 23

 

[Todo este capítulo é um flashback do Ashton.]

 

Naquela noite a ideia de sairmos nem sequer foi minha e para dizer a verdade, por mim eu tinha ficado em casa. Ultimamente saíamos muito, bebíamos muito, drogávamo-nos muito e portanto, o meu corpo já andava demasiado cansado e eu só queria dormir. Porém eles insistiram, como sempre e também como sempre, eu acabei por ceder. Eu cedia sempre, diziam que eu era muito influenciável e talvez estivessem certos nisso, por muito que eu sempre negasse tal coisa.

A noite corria bem, muito bem até. O bar onde nós estávamos era um dos melhores da cidade e naquela noite estava a decorrer uma festa. As bebidas não paravam de ser pousadas sobre o balcão e rapidamente os copos iam ficando vazios, uns atrás dos outros. As gargalhadas eram também imensas e depois de bebermos mais do que era suposto, juntamo-nos todos na casa de banho daquele estabelecimento e as drogas que EU tinha trazido foram todas parar ao nosso organismo.

Posso dizer que o meu estado era péssimo, acho que pior era impossível, porém eu sentia-se bem. Realmente bem. Como sempre me sentia quando estava assim. Era como se fugisse à realidade na qual eu tinha de viver todos os dias e era bom sair da rotina. Não é sempre bom quando nos sentimos diferentes, nos sentimos realmente bem?

A noite já ia longa, o bar continuava cheio mas já nenhum de nós estava com vontade de estar ali dentro. Portanto, acabamos por sair para a rua. O ar fresco que embateu contra o meu rosto foi bastante agradável e um sorriso formou-se nos meus lábios. As vozes dos meus amigos começaram a fazer-se ouvir quando começaram a tentar decidir quem conduziria o carro que nos levaria para outro sítio ou então para casa. A maior parte, ou melhor, todos eles começaram a achar que devido ao estado em que nós estávamos devíamos ir a pé ou então apanhar um táxi. Porém, EU neguei, comecei a chamá-los de fraquinhos e outros adjetivos do género e como eles odiavam isso acabaram por fazer aquilo que EU disse. Combinamos quem iria conduzir o carro e depois, aos tropeções, seguimos até ele.

A viagem começou de forma normal e eu comecei a achar que a minha ideia tinha sido boa. Afinal eram apenas uns minutos, que mal poderia acontecer? Na minha cabeça nenhum, é claro. As gargalhadas preenchiam o carro assim como o som da música que vinha do rádio que tinha sido ligado por mim. Algumas vozes faziam-se ouvir atrás de mim, visto que eu estava no lugar do pendura, e as melodias mal entoadas chegavam aos meus ouvidos. As nossas cabeças estavam completamente alteradas, nós mal sabíamos o que estávamos a fazer devido a todo o álcool e às drogas que estavam no nosso organismo a fazer os seus efeitos.

De um momento para o outro parece que tudo mudou e que tudo aconteceu demasiado depressa. Tão depressa que mal consigo descrever aquilo que aconteceu mesmo em frente aos meus olhos. Num momento o carro seguia pela estrada e no momento seguinte este estava a subir para cima do passeio. Eu consegui ver uma rapariga mesmo à nossa frente e ainda abri a boca para gritar mas já era tarde demais. Ela tinha sido levada na frente. Tentei gritar para pararem o carro mas as minhas palavras não chegaram a sair da minha boca porque eu tinha perdido todas as forças que eu tinha para falar. Olhei pelo espelho retrovisor, vendo por entre as luzes que iluminavam as ruas uma pessoa estendida no chão e já imensas pessoas a surgir de todos os lados. Não conseguia ouvir os gritos que provinham da rua devido à música alta que tocava ainda no interior daquele carro, mas quase os conseguia imaginar na minha cabeça. Os gritos. O pânico. Tudo aquilo que nós tínhamos provocado. Tudo o que EU tinha provocado.

As nossas gargalhadas foram silenciadas a partir do momento em que aquilo aconteceu e a merda da música continuava a tocar, tão alta que parecia que ia fazer com que os meus tímpanos explodissem. Só queria que aquilo parasse, queria aquela música fora dali e queria nunca mais ter de a ouvir, porque eu sabia que a partir de agora sempre que eu ouvisse aquela música, eu iria recordar aquele momento. Ou melhor, nem era preciso a música para eu o recordar, pois já sabia que nunca mais na vida eu ia conseguir esquecer aquilo. Nunca mais eu ia parar de me sentir culpado pelo que tinha acontecido.

A culpa era MINHA. Apenas minha. Se EU não tivesse comprado drogas naquela noite nós não estaríamos num estado tão lastimável. Se EU tivesse feito logo o que eles queriam, nós não tínhamos entrado neste carro e nada disto tinha acontecido.

Se EU tivesse sido responsável neste momento não estaria no estado em que estou e a Valerie também não. As nossas vidas estão completamente arruinadas e toda a culpa disso é MINHA.

 

Este capítulo é mais pequeno que os outros, porque eu apenas queria colocar aqui o flashback e nada mais. Pronto, agora já está explicado como tudo aconteceu e porque aconteceu.

Eu vou de férias, amanhã, e vou estar fora mais do que uma semana. Vou deixar um capítulo nos rascunhos para vir cá publicá-lo a meio da próxima semana e depois volto a publicar quando voltar (publico dia 31, talvez).

Beijinhos!

Recovery - 22

 

- Val… - Ashton murmurou, ao mesmo tempo que dava alguns passos em frente, visto a rapariga loira ter começado a afastar-se.

- Não! – ela gritou na sua direcção e avançou mais para trás. – Não digas nada! Eu não quero ouvir nada, Ashton. – aquela frase tinha sido suficiente para ela entender tudo. Ele tinha sido bem claro nas palavras que havia dito.

- Eu posso explicar. – ele apressou-se a dizer, continuando a avançar numa tentativa de se aproximar mais dela.

Valerie abanou a cabeça e esticou uma mão como que a dizer-lhe para parar de andar.

Não andes mais, não te aproximes e não me toques. – proferiu estas palavras de forma lenta e fria. Respirou fundo quando sentiu as lágrimas quererem chegar aos seus olhos, porém, obrigou-se a ela própria e não deixar que qualquer lágrima escorresse pelas suas bochechas. – Eu quero ir embora. Não quero mais estar sozinha contigo. Preciso de sair daqui. – abanou a cabeça com força e virou costas. – Eu odeio-te.

 

- Au Ashton! – Ivy choramingou olhando para mim com uma expressão de tristeza presente no seu rosto. Larguei os seus cabelos claros e ela deu-me um empurrão.

- Não gosto de ti! – ela disse, cuspindo aquelas palavras na minha direcção. Valerie estava a rir-se às gargalhadas enquanto caminhava até ficar mais próxima de nós.

- Eu disse-te Ivy. Ele é mau.

- Eu não sou mau. – retorqui e pude perceber que um pequeno beicinho se começava a formar nos lábios de Ivy. – Vais chorar como um bebé? – perguntei, enquanto os meus olhos se iam focando numa e noutra. Sempre tinha achado fascinante o facto de elas serem iguais, e como por isso eu nunca me cansava de as admirar.

- Cala-te. – Valerie tinha-se aproximado mais de mim, empurrando-me, o que fez com que eu caísse no chão, visto que me tinha apanhado desprevenido. – Deixa a minha irmã. Nunca mais lhe toques e nunca mais fales para ela. Nós não gostamos de ti. Vais ficar para sempre sozinho. Ninguém gosta de pessoas más. E tu és mau. Odeio-te. – ela tinha um dedo apontado na minha direcção e olhava-me como se realmente me odiasse. Mas quando temos cinco anos não odiamos ninguém de verdade, porque não sabemos o verdadeiro significado da palavra odiar. Apenas a dizemos porque ouvimos os adultos a dizê-la a toda a hora. Apenas sabemos que é uma coisa má, mas nada mais do que isso.

 

Quando não perdemos as pessoas por elas morrerem, perdemo-las porque nos enganam. E, sinceramente, naquele momento Valerie já não sabia qual era pior. Ela ouvia a voz de Ashton mesmo atrás dela, a chamá-la mas ela não parava de andar, cada vez mais rápido numa tentativa de se afastar dele.

 

Eu não lhe vou dizer que a culpa de a irmã dela estar morta é minha.

 

Ela respirava fundo e tentava não pensar no que tinha acabado de ouvir, para tentar impedir que as lágrimas começassem a cair pelo seu rosto, mas a sua tentativa saiu falhada e ela não conseguiu manter presas as lágrimas por mais tempo. Estas começaram a cair e Valerie só tinha vontade de bater a si própria por deixar que isso estivesse a acontecer.

- Valerie espera, deixa-me explicar! – Ashton gritava mesmo atrás dela, o que fazia com que a rapariga corresse mais rápido, para se afastar mais dele. Só queria ficar o mais longe possível dele.

- Deixa-me Ashton! – ela gritou de volta, com as lágrimas e o cansaço de estar a correr a fazer com que a sua voz soasse mais fraca do que ela queria.

O sol estava a começar a nascer no horizonte, dando assim inicio a mais um dia, um dia que seria bastante longo. Valerie só naquele momento percebeu que tinham ficado mesmo muito tempo naquele bar e nem sequer tinha dado pelo tempo passar, talvez por ter começado a gostar demasiado da presença de Ashton. A gostar demasiado de o ter por perto. Mas agora, agora tudo isso tinha terminado. Ela tinha confiado nele, tinha-se aproximado demasiado daquele rapaz, tinha-o deixado fazer parte da sua vida e agora ele tinha estragado tudo. Quando Valerie começava a pensar que talvez a vida não fosse assim tão má, Ashton tinha-a feito recuar em todo o progresso que ela pensava estar a fazer.

Ela continuou a correr, desejando mentalmente chegar o mais rápido possível à casa onde eles estavam a viver e portanto, foi um enorme alívio quando esta apareceu no seu campo de visão. Ela tentava ignorar a voz de Ashton, que continuava atrás dela sempre a pedir-lhe para parar e para o deixar explicar-se, mas ela não queria ouvir explicações de nada, nada iria mudar as palavras que ela tinha ouvido.

 

Eu não lhe vou dizer que a culpa de a irmã dela estar morta é minha.

 

A culpa era dele, era toda dele. Como é que ele tinha sido sequer capaz de esconder-lhe aquilo durante todo este tempo?

Assim que entrou na casa Valerie correu até ao quarto, pegou na sua mochila que estava dentro do roupeiro que ali havia e depois de a pousar na cama começou a atirar para o seu interior as coisas que lhe pertenciam.

- Valerie, ouve-me por favor! – Ashton implorou quando entrou também no quarto e a viu arrumar as suas coisas de forma apressada na mochila.

Ele só queria ter oportunidade de lhe explicar, apenas isso. Queria fazê-la entender as coisas. Ashton acabou por se aproximar mais da rapariga quando ela se limitou a ignorá-lo e segurou no seu braço.

- Deixa-me Ashton! – Valerie gritou abanando o braço e tentando assim soltar-se dele.

- Deixa-me explicar Valerie. Deixa-me contar-te tudo, por favor! – ele pediu mas parecia que a rapariga nem sequer se dava ao trabalho de o tentar ouvir. – Eu só soube há uns dias que era a tua irmã. Eu não fazia ideia, eu juro.

- Não quero saber Ashton! Eu ouvi o que tu disseste e nada vai mudar isso, nada!

 

Eu não lhe vou dizer que a culpa de a irmã dela estar morta é minha.

 

- Eu só não te disse logo para te proteger, Valerie. E eu nem sequer sabia no tempo todo em que estivemos no hospital. – ele suspirou quando ela conseguiu soltar-se da sua mão e depois deixou que os seus olhos seguissem tudo aquilo que a rapariga estava a fazer. – Por favor, desculpa. Eu juro que não foi por mal, eu… eu sabia que se te contasse quando soube tu ias passar-te, como está a acontecer agora. Eu sabia que ias voltar a ir-te abaixo e eu não queria que isso acontecesse. Não queria magoar-te.

- Já me magoaste, Ashton. – ela cuspiu as palavras de forma fria e como tinha já colocado tudo no interior da sua mochila, fechou o fecho que parecia não querer colaborar com ela. Parecia que tudo lhe estava a correr mal, parecia que a vida tinha, mais uma vez, deixado de fazer sentido. Era sempre a mesma coisa e ela ainda se perguntava do porquê de as pessoas insistirem que a vida valia a pena. Será que valia mesmo? As pessoas de quem gostávamos eram sempre quem estragava tudo. Nós apegávamo-nos a elas e depois? Ou elas morriam, ou iam embora, ou esqueciam-nos, ou magoavam-nos, mentiam-nos. Ia sempre acabar tudo mal.

 

Eu não lhe vou dizer que a culpa de a irmã dela estar morta é minha.

 

Valerie colocou a mochila às costas e de seguida começou a caminhar para fora daquele quarto. Só queria afastar-se de Ashton e nunca mais ter de olhar para ele.

- Onde é que vais? – ele perguntou, sentindo a sua voz ficar mais quebrada. Não era suposto isto estar a acontecer, não era.

- Vou procurar o Harry, ele vai ajudar-me ao invés de me enganar. – ela disse friamente e saiu de seguida do quarto.

- Não faças isso, Valerie. Não vai correr bem… - Ashton ainda disse mas já era tarde demais, Valerie já tinha saído do quarto e já não o ouviu.

 

“ 01 de Abril, 2015

A minha cabeça está numa completa confusão. Por um lado parece que o tempo parou mas por outro parece que ele anda a avançar depressa demais. Parece que parou porque os meus dias agora parecem não ter fim e eu só quero que eles passem. Porém, dou por mim a pensar na quantidade de dias que já se passaram desde o dia em que tu morreste e nestas alturas apercebo-me de como o tempo está a passar tão rápido.

Dou por mim também a perguntar-me como ainda estou viva depois de todos estes dias.”

 

Aqui está mais um capítulo! Veio mais cedo do que o habitual, por causa de eu estar quase a ir de férias.

Então, aqui está a reacção da Valerie.... e agora ela vai ter com o Harry, o seu ex-namorado, que chegou a aparecer nos dos capítulos iniciais. O que acham que vai acontecer?

O próximo capítulo será diferente de todos, porque todo o capítulo será um flashback do Ashton, do dia do acidente, onde vocês vão ficar a perceber como tudo aconteceu e como o Ashton ficou depois disso! Por isso, basicamente a continuação deste capítulo só acontece depois no 24!!

Espero que tenham gostado do capítulo!