Recovery - 05
- Ashton? O que é que se passa? – a voz da minha mãe parecia estar demasiado distante apesar de se encontrar mesmo ali, ao meu lado. Eu estava na rua, não me lembro ao certo do porquê de ter vindo para ali, mas o vento frio que batia contra o meu rosto, sabia-me bem.
Estava sentado no passeio em frente da minha casa, o meu corpo, agora completamente a tremer, estava encostado contra um poste da rua.
– Vou morrer. – murmurei ofegante.
Eu quase não conseguia respirar, estava completamente suado e o meu corpo não parava de tremer. Eu não sabia o que se estava a passar comigo. Isto não era normal, eu apenas sabia isso. De qualquer das maneiras, ultimamente nada do que acontecia comigo era normal. Tudo tinha mudado, e eu sabia muito bem o porquê das coisas terem mudado. Talvez isto tivesse a ver com isso.
Eu sentia como se estivesse fechado num armário, bem lá no fundo e completamente abandonado, sabendo que ninguém me poderia tirar dali. Um armário completamente escuro e escasso de ar. É tão claustrofóbico, que eu sinto que posso morrer aqui mesmo.
- Não digas disparates. – a minha mãe falou, deixando denotar o seu tom de voz preocupado. Ela afastou para trás os meus cabelos aloirados, e segurou-me depois nos braços, começando a puxar-me para cima, de maneira a eu me levantar do chão. – Anda, vamos para dentro. – tentei fazer o que ela me pedia, e de forma lenta, fui arrastando os meus pés pelo chão, enquanto ela me encaminhava para o interior da nossa casa. – Amanhã vamos ao médico. – acrescentou quando percebeu que eu continuava mal, apesar das minhas variadas tentativas de me tentar acalmar e voltar ao meu estado normal.
Esta foi a primeira vez em que eu tive um ataque de pânico. E nem sequer foi tão mau como os que se seguiram.
Ashton odiava aqueles ataques de pânico que aconteciam quando ele menos esperava, e odiava-os, principalmente, quando eles aconteciam em lugares públicos, em frente aos olhos das outras pessoas. Ele preferia quando estava sozinho, longe de toda a gente, mas ele não podia fazer nada em relação a isso.
- Vais ficar bem? – a voz de Valerie fê-lo sair dos seus devaneios algum tempo depois.
Já tinha passado algum tempo desde que o ataque de pânico tinha começado, talvez uma hora? Mais? Ele não sabia dizer ao certo há quanto tempo ele estava ali sentado no chão com Valerie ao seu lado. Não sabia sequer porque é que ela ainda estava ali.
Assentiu com a cabeça, deixando-se na mesma ficar encostado à parede, sentado e de olhos fechados. – Só preciso de mais uns minutos.
Era sempre assim. Ele tinha ataques de pânico, nos quais ele pensava muito sinceramente que ia morrer e depois eles passavam, deixando-o completamente exausto e com vontade de desaparecer do mundo. Ele só queria que aquilo parasse. No entanto ele nunca ficava bem para sempre, como ele queria. Pois, mais tarde ou mais cedo, ele sabia que aquilo ia voltar a acontecer.
- Ok. – Valerie deixou-se ficar sentada ao lado dele. O seu coração estava a bater mais rápido do que o normal devido ao facto de ela continuar a sentir-se preocupada com Ashton. Ele já parecia estar a ficar melhor, mas mesmo assim… Ela abriu a boca, para perguntar algo ao rapaz que estava ao seu lado, mas voltou a fechá-la, ao aperceber-se que o melhor era deixá-lo descansar mesmo a sério.
- Obrigado. – as palavras de Ashton saíram da sua boca alguns minutos mais tarde, bastantes minutos mais tarde. Minutos esses que foram também passados em silêncio, onde apenas se podia ouvir as suas respirações, cada vez mais calmas e regulares.
A rapariga limitou-se a abanar a cabeça, e quando Ashton se levantou, ela fez o mesmo. Os seus olhos estavam atentos a ele, e ligeiramente desconfiados.
- Já estás bem? – ela perguntou.
- Sim, dentro dos possíveis. – ele encolheu os ombros, respirou fundo e de seguida começou a andar pelo corredor de forma lenta, sentindo a rapariga a andar mesmo atrás de si.
- Porque é que estavas naquele estado? – ela decidiu perguntar, não conseguindo conter por mais tempo aquelas palavras dentro da sua boca.
- Tive um ataque de pânico. – ele falou, com a sua voz bastante mais baixa do que o normal.
A rapariga voltou a abrir a boca, com a intenção de perguntar mais coisas, mas achou que não seria boa ideia neste momento, por isso limitou-se a permanecer em silêncio e a segui-lo.
Demoraram apenas uns breves minutos até entrarem no refeitório pertencente àquele edifício. Valerie odiava o cheiro presente naquele lugar, cheirava a fritos e àqueles cheiros estranhos de comida que nos faziam sentir enjoados sem sequer termos ainda comido. Ainda por cima, ainda estavam na hora do pequeno-almoço, sendo que aqueles cheiros eram ainda mais estranhos.
Ambos caminharam até ao local onde serviam os pequenos-almoços, e depois de colocarem aquilo que desejavam num tabuleiro, Valerie andou depois até uma das mesas vazias, que por sinal, eram bastantes àquela hora.
Pousou o seu tabuleiro sobre uma das mesas e quando reparou que Ashton se preparava para pousar o dele à sua frente, ela abanou a cabeça.
- Não. – disse, fazendo assim chamar a atenção dele para ela.
- Não? Não o quê? – perguntou o rapaz, com os seus olhos verdes fixos nos azuis dela.
- Não quero que te sentes aqui. Quero comer sozinha. – apressou-se a rapariga a dizer.
Ashton fez uma cara confusa e sentou o seu corpo sobre a cadeira, depois de pousar por completo o tabuleiro naquela mesa.
- Porquê? – perguntou depois.
- Porque sim, Ashton. – um suspiro ecoou dos seus lábios.
Ele suspirou também e recostou-se na cadeira. – Isso não é resposta, e não irei sair daqui enquanto não me deres uma resposta em condições.
- Não precisas sequer de sair daí. – a loira pegou novamente no seu tabuleiro e começou a afastar-se daquela mesa. Antes de se afastar muito, virou o seu corpo na direcção do de Ashton e encarou-o. – Mas se queres tanto saber o motivo, eu digo-te. Não quero amigos, não preciso de amigos, por isso quero estar sozinha. Se estavas à espera que pudéssemos construir uma amizade, ou lá o que queiras chamar, podes esquecer isso.
O rapaz arregalou os olhos sem entender ao certo o porquê de ela ter dito aquilo. Pensava que até se estavam a dar bem, afinal de contas, ela tinha estado aquele tempo todo com ele durante o ataque de pânico. Ele abanou a cabeça, enquanto mais um suspiro saiu por entre os seus lábios, viu Valerie a sentar-se numa mesa afastada da sua e logo depois ele desviou o olhar, decidindo por fim comer o que tinha no seu tabuleiro.
“08 de Julho, 2014
Passou um mês desde o dia em que me deixaste. Não consigo parar de contar os dias, é como se fosse algo que tivesse de fazer, apesar de eu não querer. Custa-me muito quando percebo como o tempo está a passar tão depressa e que cada vez estás a tornar-te numa memória mais distante.
Não tenho escrito muito aqui ultimamente, mas a única razão para isso, é que tenho passado os meus dias a chorar. As lágrimas parecem não ter fim, Ivy. Os pais não param de tentar fazer-me sair deste transe, mas eu não consigo. Não consigo.
A minha vida deixou de fazer sentido.
Quero morrer também.”
Acho que ando a publicar demasiados capítulos ahah por isso tenho de começar a controlar-me e publicar menos! Mas pronto, espero que tenham gostado deste capítulo!