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More than words.

More than words.

Recovery - 11

 

Ashton percorria os corredores daquele hospital, numa tentativa de encontrar a rapariga loira, que preenchia os seus pensamentos desde o dia anterior. Se ele pudesse voltar atrás no tempo, teria feito tudo de forma diferente. Nunca teria pegado no diário dela, e ela nunca se teria passado com ele daquela forma. E neste momento as coisas estariam normais, ao invés de más.

Não conseguiu evitar deixar escapar um suspiro de alívio quando a viu surgir ao fundo daquele corredor. Ela parecia estar também à procura de alguém, e portanto, ele concluiu que talvez andasse à procura dele. Para quê, ele isso não conseguia adivinhar.

- Val? – ele chamou-a quando por fim ficaram perto um do outro. Ela parecia também um pouco aliviada por o ver. – Eu queria pedir-te desculpa por causa de ontem. Eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido, e bem… - ele mordeu o seu lábio e deixou que ambas as suas mãos deslizassem até ao interior dos bolsos das suas calças. - … eu queria mesmo desculpar-me. – ele encolheu os ombros, e deixou que os seus olhos esverdeados permanecessem em contacto com os azuis dela.

Os cantos dos lábios de Valerie subiram num pequeno sorriso, quando ela percebeu que tudo seria mais fácil do que ela pensava. – Não faz mal, Ashton. Já passou. – ela encolheu também os ombros.

- Tens a certeza? – ele questionou, com uma pontada de desconfiança presente no seu tom de voz.

- Sim, eu tenho a certeza. Eu exagerei um bocado, eu sei. Mas nunca ninguém tinha lido nada do que escrevo no diário, e pronto, fiquei chateada por teres lido aquelas coisas. – os seus ombros voltaram a encolher-se, como se ela quisesse deixar para trás das costas aquele assunto. – Vamos esquecer isso. Eu queria falar contigo sobre uma coisa. – ditas estas palavras, a jovem olhou para todos os lados daquele corredor, para assim poder verificar que estavam os dois ali sozinhos. Nunca se sabia quem estava por perto, e ela não podia correr o risco de alguém ouvir aquela conversa. Se isso acontecesse, os seus planos iriam todos por água abaixo.

- O que queres falar comigo? – perguntou Ashton, com uma sobrancelha arqueada e completamente curioso. Estava a estranhar toda aquela atitude de Valerie para consigo, ela já não parecia querer afastá-lo dela. Parecia até que se tinha esquecido das coisas que tinha dito a Ashton, sobre não querer ter amigos. Se bem que Ashton podia apenas estar a fazer um enorme filme na sua cabeça, e aquilo não passar apenas da sua imaginação fértil.

- Eu… bem, eu… - ela mordeu o lábio e brincou com os dedos das suas mãos, quando os seus olhos desceram para estes. Ela estava nervosa, pois não sabia como abordar aquele assunto. – Eu quero que me ajudes a fugir daqui. – as palavras saíram de forma rápida da sua boca, pois só dessa forma ela sabia que iria conseguir dizer aquilo.

Os olhos de Ashton arregalaram-se muito, muito mais do que era costume. – O quê??? Fugir daqui? Como fugir daqui Valerie? – ele perguntou, num tom de voz mais alto ao início, mas que logo foi diminuído quando ele percebeu que ninguém podia ouvir aquelas coisas.

- Fugir deste hospital, sair daqui. Não quero passar os próximos meses ou até os próximos anos aqui fechada. – ela disse, e elevou uma das mãos, para que Ashton não dissesse nada enquanto ela não parasse de falar. – Ainda estou aqui à relativamente pouco tempo, mas já me sinto ficar completamente maluca. Como estás a conseguir aguentar aqui este tempo todo, Ashton? Estou farta de ver as mesmas coisas todos os dias, farta de fazer as mesmas coisas todos os dias. Estou farta desta rotina e deste lugar, e só quero sair daqui. – suspirou pesadamente e olhou de forma atenta para o rapaz que estava à sua frente, esperando que ele dissesse algo. Algo que ela quisesse ouvir.

- Não é assim tão fácil. Não podes dizer que queres fugir e esperar que isso se realize só porque tu queres. – ele encolheu os ombros, acabando depois por deixar escapar uma gargalhada. – Achas que não estou farto de estar aqui também? É um inferno para mim estar aqui fechado. Só queria estar livre, só queria voltar à minha vida normal. – logo uma imagem das drogas que ele consumia preencheram a sua mente, assim como todas as coisas más que ele tinha deixado ao vir para aqui. Talvez não fosse assim tão boa ideia querer a sua vida normal de volta, essa vida era uma treta, repleta de vícios. Ashton queria era uma nova vida, se isso fosse possível. Contudo, as coisas não eram assim tão simples, não estalávamos os dedos e tínhamos aquilo que queríamos.

- Podes fugir também. Só preciso que me ajudes a arranjar uma maneira de o fazer. – ela continuou a falar. – Não pode ser assim tão difícil. – encolheu os ombros, mantendo-se na ilusão do que estava a dizer.

- Sabes quanta segurança existe neste lugar? Isto é do género de uma prisão, eles têm bastante cuidado com tudo, pensam em tudo ao pormenor. Existem montes de pessoas aqui dentro que têm de estar sob vigilância vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Nunca na vida iriamos conseguir fugir daqui, Valerie.

- Mas… - ela começou a falar, mas logo foi interrompida pelo rapaz.

- Tira essa ideia da cabeça. Não estejas a alimentar algo que logo à partida não se vai concretizar. – ele proferiu, enquanto um suspiro era expelido por entre os seus lábios. – Vais ver que o tempo vai passar depressa, e em breve estarás lá fora.

- Isso não vai acontecer. – ela disse, agora soando com uma voz mais fria, abanou a cabeça e suspirou. – Eles vão deixar-me ficar aqui para sempre. Vão acabar por se esquecer que ainda têm uma filha. Ninguém vai querer saber de mim, e eu vou ficar aqui. Esquecida. Não vou passar de uma maluca internada num hospital psiquiátrico.

Ashton abanou a cabeça. – Não sejas tão dramática.

- Não é ser dramática. É a verdade. – ela disse. – Achas mesmo que alguém te vai tirar daqui? – ela não deixou que Ashton lhe respondesse, e apenas se limitou a virar-lhe costas, começando dessa forma a avançar pelo corredor.

 

“25 de Setembro, 2014

A minha vida é uma merda, Ivy. Só quero que tudo acabe, quero acordar deste pesadelo que começou no dia em que tu morreste.

Lembro-me de ouvir o telefone tocar, naquela noite, eu estava embriagada pelo sono, mas mesmo assim recordo-me perfeitamente das palavras exatas da nossa mãe quando atendeu aquela chamada e lhe contaram o que tinha acontecido. “A minha Ivy não.”, foi o que ela disse, por entre os soluços e lágrimas que começaram a correr pelo seu rosto. Eu nem precisava de ouvir aquelas palavras, para saber que algo estava mal. Eu conseguia senti-lo, afinal somos gémeas, e não dizem sempre que os gémeos sentem as coisas um do outro?

Eu devia ter ido sair nesta noite também, ainda não consigo perceber o porquê de ter ficado em casa. Devia ter estado lá contigo, mas não estava. E eles mataram-te.”

 

Valerie voltou a entrar no seu quarto, os seus pés levaram-na até à mesa-de-cabeceira onde ela escondia os medicamentos que não tomava. Pegou neles todos como já tinha feito no início daquele dia, retirou-os da caixa onde estavam escondidos e deixou os mesmos na palma da sua mão. Cerrou a mesma, mantendo os comprimidos lá presos, e de seguida saiu do seu quarto novamente. Enquanto caminhava pelos corredores, a rapariga apenas pensava que se o seu plano A não tinha dado certo, ela iria logo pôr em prática o plano B. Para quê esperar mais tempo?

 

Quando Valerie entrou na casa de banho, olhou em volta, tentando verificar se estava ali sozinha. Quando percebeu que sim, andou até ao lavatório e colocou-se em frente do mesmo. Os seus olhos fitaram o espelho, onde ela viu o rosto da irmã fixo no seu. Elas eram tão iguais. Os mesmos olhos azuis intensos, os mesmos lábios carnudos e rosados, a mesma expressão no rosto, o mesmo cabelo. Tudo era igual, e era por isso, que as pessoas as confundiam a todo o momento. Mas agora isso tinha acabado, porque agora só uma estava viva.

Valerie limpou uma lágrima solitária que começou a cair pelo seu rosto e suspirou pesadamente. Farta de tudo aquilo, voltou a sua atenção para os comprimidos que estavam ainda sobre a palma da sua mão. Num gesto rápido, e sem pensar em mais nada, levou-os a todos à boca de uma só vez, engolindo-os de seguida.

Só espera que desta vez aquilo resultasse, esperava fechar os olhos e nunca mais ter de os abrir.

 

Na parte do início do capítulo quando a Valerie aceita logo as desculpas do Ashton e fica bem com ele não é só por querer pedir-lhe algo, apesar de ser isso que parece, acho eu. Ela aceita as desculpas de forma sincera porque por mais que ela queira ficar longe do Ashton, a verdade é que ele é a única pessoa que neste momento ela tem.

Outra coisa, esta passagem do diário da Valerie é apenas o início do que aconteceu, mesmo não contando nada demais aqui. Mas bem, no próximo capítulo irão ficar a saber como é que a Ivy morreu!

Espero que tenham gostado do capítulo.

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