Recovery - 15
“26 de Dezembro, 2014
O Natal sem ti foi completamente horrível e desprovido de qualquer tipo de alegria. Todos estávamos mais tristes do que nos outros dias, pois este era sempre um dia muito especial para todos nós. Passávamos o dia em família e agora isso não era mais possível, a nossa família estava completamente quebrada.
Não comi todos aqueles doces que me faziam lamber os dedos, as prendas foram deixadas num recanto, e estão ainda por abrir. Não preciso delas para nada, só preciso de ti. Mas sei que tu não irás voltar nunca mais e isso só me faz ter vontade de chorar.”
Valerie sabia que estava a enveredar por caminhos que não devia, quando pediu a Ashton para a ajudar com esta ideia maluca. Ela devia ter ficado quieta no seu canto, devia ter continuado a manter-se afastada dele, mas ao invés disso, cada vez estavam mais próximos um do outro. O problema, era que agora ela não podia fazer nada para mudar isso. E também, ela não queria continuar neste hospital por mais dias, estava farta de estar ali, como se fosse uma maluca, quando ela sabia que não o era. Por isso, ou se juntava a Ashton ou ficava ali, quem sabe para sempre.
Os dois dias seguintes, acabaram por se arrastar no que pareceu uma longa semana. O tempo parecia nunca mais passar, mas não era sempre assim? Quando queríamos que o tempo passasse depressa, ele parecia ficar suspenso. Contudo, esses dias serviram para eles pensarem melhor no plano, e tentarem ajustar tudo, de maneira a terem a certeza de que ia correr tudo bem.
Valerie colocou a sua mochila sobre a cama, e para o seu interior atirou algumas peças de roupa, não muitas para dessa forma não carregar muito peso, mas apenas as suficientes. A seguir das roupas, atirou lá para dentro algumas outras coisas de que iria precisar, e claro, por último atirou o seu velho diário, aquele que ela não poderia nunca deixar para trás. Era uma parte de Ivy que ela levava consigo, todas as memórias que ela queria recordar para sempre.
Depois de correr o fecho da mochila, atirou a mesma para um canto escondido do roupeiro que se encontrava no seu quarto, precisava de manter a mochila longe de qualquer olhar, pois qualquer pequena coisa poderia servir para os denunciar e estragar assim o seu plano.
♣
Depois de esconder a mochila debaixo da sua cama, Ashton suspirou aliviado e tentou manter a sua cabeça no lugar. Ainda não sabia bem porquê, mas sentia-se demasiado nervoso com aquilo que iriam fazer esta noite. Ele tinha passado toda a sua vida a fazer merda, contudo nem mesmo isso o fazia ficar mais calmo. Parecia que desta vez era diferente, tinha mais medo de ser apanhado, pois caso isso acontecesse, nunca mais os iam deixar em paz dentro daquele hospital. As vidas deles seriam um autêntico inferno, sempre com enfermeiros atrás deles, a seguir todos os seus passos. E Ashton não queria isso, já era horrível estar aqui, mas dessa forma seria muito pior.
Abandonou o seu quarto e caminhou até à sala de convívio, local onde tinha combinado encontrar-se com Valerie. A rapariga parecia mais calma do que ele, mas ele não sabia se era apenas porque ela conseguia controlar melhor do que ele aquilo que sentia.
Quando a avistou sentada num dos sofás num dos recantos mais afastados daquela divisão, o rapaz apressou-se a caminhar até ela.
- Olá. – disse, tentando que um sorriso se formasse nos seus lábios, mas estava difícil. Ele puxou para trás alguns dos fios claros dos seus cabelos e sentou-se depois ao lado da rapariga.
- Olá. Nem acredito que já é hoje. – ela disse, mordendo de forma leve o seu lábio.
Os olhos de ambos estavam focados nas outras pessoas que se encontravam naquele lugar. Como sempre, todos estavam calados e sozinhos, cada um distraído com qualquer coisa sem importância. Valerie odiava estar naquele lugar, sempre tinha associado estes hospitais a pessoas que estavam malucas, e agora estava num.
- Vai correr tudo bem. – Ashton disse, mexendo nervosamente os seus dedos uns nos outros, e tentando convencer não só a rapariga mas também a ele próprio. Só queria que as horas passassem depressa, para despachar aquilo de uma vez por todas.
- Eu sei que sim. – ela virou o seu rosto na direcção do dele, deixando que ele visse o sorriso que estava nos seus lábios. – Já tens tudo pronto?
Ele assentiu com a cabeça antes de responder. – Sim, agora só falta mesmo pôr o plano em prática. – os seus olhos esverdeados encontraram os da rapariga. – Não te esqueças, assim que ouvires o alarme de incêndio e barulho nos corredores, sai do quarto e corre até à porta de entrada.
Ela limitou-se a assentir com a cabeça. Já sabia de cor tudo o que tinha de fazer assim que ouvisse o barulho daquele alarme. Iria sair do seu quarto, correr pelos corredores, como todas as outras pessoas iriam estar a fazer. Iria pelo corredor que mais rapidamente a levaria à entrada do hospital, e lá ela encontraria Ashton, que tinha as chaves para saírem dali.
Ambos se endireitaram quando uma enfermeira entrou naquela divisão. Viram a mulher a olhar para todos os lados, incluindo para eles, mas logo desviou o seu olhar não dando qualquer importância. Eles engolirem em seco, como se tivessem medo que alguém lesse os seus pensamentos, coisa que era impossível, claro.
♣
Olhando pela janela do seu quarto, Ashton via o dia a dar lugar à noite, de forma lenta, o que o fazia suspirar e olhar repetidas vezes para o relógio que havia numa das paredes, como se isso fizesse o tempo passar mais rápido. As estrelas cobriam parte do céu, assim como uma enorme lua que dava alguma claridade àquela noite.
O rapaz passou o tempo todo a andar de um lado para o outro naquele quarto, os seus sapatos a fazerem um ligeiro barulho pelo pavimento à medida que ele ia andando. Quando, por fim o relógio marcou a meia-noite certa, ele pegou na sua mochila, colocando a mesma às costas. Por aquela altura, os corredores estariam vazios, os pacientes estariam nos seus quartos, já a dormir. As enfermeiras, algumas estariam a dormir, a maior parte delas, e as outras estariam numa sala, fechadas, talvez na conversa, aborrecidas pela longa noite que se estendia à sua frente. Os seguranças, estariam atentos a qualquer coisa, contudo, devido às horas tardias, o mais certo era estarem com um olho aberto e outro fechado.
Ashton começou a andar pelos corredores, sabia já onde se activava o alarme de incêndios, pois tinha tido o cuidado de verificar isso nos dias anteriores. Até tinha visto quanto tempo demorava a chegar do seu quarto até lá. Um minuto, apenas um minuto. Ele foi contando o tempo, dado que não havia mais nada que ele queria ter na sua mente naquele momento. O seu coração batia com tanta força, que parecia que o barulho chegava aos seus ouvidos.
Quando por fim avistou a pequena caixa vermelha do alarme junto à parede, o rapaz aumentou a velocidade dos seus passos. Engoliu em seco e levantou a tampa transparente que cobria o pequeno botão, também de cor vermelha.
- É agora ou nunca. – ele murmurou para si próprio, ao mesmo tempo que o seu dedo pressionava o botão.
Assim que isso aconteceu, o barulho irritante do alarme começou a soar por todo aquele edifício. O barulho das pessoas foi a segunda coisa que se começou a ouvir, pois tal como ele tinha previsto, os pacientes estavam a ficar todos em pânico ao ouvir aquele barulho a meio da noite. Ele não pensou em mais nada, e começou a correr em direcção à entrada do hospital.
Assim que Valerie começou a ouvir o alarme de incêndio, ela logo se apressou a pegar na sua mochila, abriu depois a porta do quarto e deparou-se logo com um corredor atapulhado de pessoas que não sabiam para que lado haveriam de correr. O pânico tinha-se instalado, e ela deu por si a suspirar de alívio por isso. Era sinal que o plano estava, para já, a correr como eles tinham planeado.
As pessoas gritavam, empurravam-se umas às outras, tropeçavam e fugiam cada uma numa direcção diferente. Valerie deixou que a porta do seu quarto se fechasse e começou depois a avançar pelo corredor. Via-se obrigada a empurrar algumas pessoas para o lado, para dessa forma conseguir avançar rapidamente por aqueles corredores, que em momentos como este pareciam sempre ser mais longos do que realmente eram.
O alarme de incêndios continuava a soar, fazendo aquele barulho entrar pelos seus ouvidos. Ela começou a correr, pois precisava de chegar o mais rapidamente possível à entrada. Não podiam perder tempo, pois o mais certo era daqui a uns minutos os bombeiros chegarem aquele local, e se isso acontecesse, eles dificilmente iriam conseguir fugir. O seu coração batia mais forte do que o costume, os seus pés quase tropeçavam nas outras pessoas e os seus braços passavam o tempo todo a embater noutros corpos.
A porta de entrada entrou no seu campo de visão, e ela suspirou aliviada quando percebeu que Ashton já se encontrava ali. Parou ao lado do rapaz, olhando para trás para ver se ninguém lhes estava a prestar atenção. Mas era impossível que alguém estivesse, todas as pessoas estavam perdidas, sem saberem o que fazer. As enfermeiras e os seguranças deviam estar a tentar pôr ordem naquela confusão, e como tal ninguém reparava naqueles dois jovens. Já para não falar no facto de as luzes ainda se encontrarem apagadas.
- Despacha-te. – ela pediu a Ashton, vendo o rapaz pegar nas chaves, elas faziam barulho, ao baterem umas nas outras, quando o rapaz tremia, de nervosismo, ao tentar colocar a chave na fechadura da porta.
- Merda. – ele resmungava irritado, mas por fim a porta acabou por ceder, para alívio de ambos.
Ainda faltava passarem o enorme portão que separava o hospital da rua, portão para o qual Ashton também tinha uma chave. Eles saíram para o exterior do edifício, fechando a porta depois de saírem e avançaram pelo caminho que os levava até ao portão seguinte. A noite deixava-os escondidos, sendo visíveis apenas duas figuras indistintas.
O rapaz pegou na chave correspondente àquela fechadura, e tal como tinha feito com a outra porta, apressou-se a tentar abrir esta. – Assim que eu abrir, começa a correr e não pares. – ele disse e por fim o portão cedeu e abriu.
Este capítulo supostamente era só para ser publicado amanhã, mas como não sei quando consigo vir ao computador amanhã, decidi que o melhor era publicar já hoje.
Bem, depois deste final, o que acham que vai acontecer? Vão conseguir? Vão ser apanhados? Digam-me o que acham!