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More than words.

More than words.

Recovery - 17

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Depois de entrarem na casa de Ian este mostrou-lhes as divisões da casa, tendo sempre a atenção de lhes dizer para se sentirem à vontade ali dentro, para fazerem como se estivessem em casa e não se preocuparem com nada. Para além disso, ele pouco tempo passava ali, visto que passava o dia inteiro fora a trabalhar e praticamente só vinha a casa para dormir.

- Bem, o único senão é que apenas tenho este quarto livre. – ele disse, depois de abrir a última porta daquela casa e olhando de seguida para os outros dois.

- Não faz mal. – apressou-se Ashton a dizer com um breve encolher de ombros.

Depois de uma breve despedida, Ian foi-se embora e Valerie e Ashton entraram para o quarto. A rapariga olhou em volta quando se viu no interior do mesmo, tentando absorver na sua cabeça todos os pequenos detalhes daquela divisão. O quarto não era muito grande e tinha uma decoração bastante simples, visto que não pertencia a ninguém e por isso Ian não se via com a necessidade de se dedicar muito a um quarto que estava sempre desocupado. Valerie sorriu ao ver que pelo menos este quarto tinha alguma cor, ao contrário do seu quarto naquele hospital. Ela abanou de forma discreta a cabeça, como se esse gesto pudesse fazer as imagens daquele lugar desvanecerem-se da sua cabeça.

- Eu durmo no chão. – a voz de Ashton fez-se ouvir uns segundos depois e Valerie desviou os seus olhos até encontrar o rapaz.

- Não precisas. A cama é grande. – ela encolheu os ombros mas naquele momento Ashton estava já a colocar no chão algumas mantas assim como uma almofada.

Valerie revirou ligeiramente os olhos e pousou no chão, a um canto, a sua mochila. Sentia os seus olhos pesados e o corpo cansado quando se sentou sobre a cama e sentiu o colchão macio por baixo do seu corpo. Não conseguiu evitar a enorme vontade que tinha de se deitar, por isso foi exactamente isso que ela fez. Puxou as mantas para trás e depois de se deitar, cobriu-se, aconchegando-se naquela cama que não era dela.

Ashton deitou-se também na cama improvisada que tinha feito no chão e deixou que o seu olhar se focasse no teto daquele quarto. Sentia-se demasiado aliviado por o seu plano ter dado certo, se bem que ainda era cedo demais para começar a festejar. Aliás, eles nunca poderiam fazer isso, pois iriam viver sempre com o medo e o constante receio de serem apanhados. Tinham fugido e aquilo seria a consequência daquele acto.

- Valerie? – ele chamou num sussurro alguns minutos depois, porém não obteve qualquer resposta, escutando o silêncio ele pôde ouvir a respiração regular da rapariga anunciando dessa forma que ela já estava a dormir.

Ashton tentou fazer o mesmo, apesar de estar a ser um pouco complicado, visto que apesar de ele se sentir demasiado cansado devido ao longo dia que tinha agora chegado ao fim, aquele chão era demasiado desconfortável.

 

Valerie piscou os olhos algumas vezes quando sentiu a claridade do dia a atingir a sua visão. Esfregou os olhos com uma das mãos e sentiu depois algo a envolver o seu corpo. Olhando para baixo ela viu um braço a rodear a sua cintura e nesse mesmo instante ela virou o seu rosto para o lado, deparando-se com Ashton a dormir profundamente ao lado dela. A sua cabeça estava enterrada na mesma almofada onde Valerie tinha a sua cabeça e os cabelos claros do rapaz caiam para a frente do seu rosto tapando ligeiramente os seus olhos ainda fechados. Com cuidado, Valerie pegou no braço de Ashton, contudo aquilo foi o suficiente para ele despertar do seu sono. Os seus olhos abriram-se, ficando assim aquele verde focado no olhar azul de Valerie.

- Oh, desculpa. – Ashton pediu, e afastou ao mesmo tempo o seu braço. – Desculpa. Eu não estava a conseguir dormir, era muito desconfortável e vim para aqui. – o seu olhar baixou um pouco, perdendo assim o contacto com os olhos de Valerie.

- Não faz mal. – ela disse num tom de voz bastante mais baixo do que o normal. – Eu tinha dito que podias dormir aqui, por isso… - os seus ombros encolheram-se ligeiramente e um pequeno sorriso apareceu por entre os seus lábios quando Ashton voltou a olhar para ela. – Achas que já perceberam que nós fugimos? – o sorriso desapareceu dos seus lábios, ficando agora no seu rosto uma expressão muito mais séria e os seus olhos arregalaram-se ligeiramente.

Ashton suspirou e por uns segundos permaneceu em silêncio, um pouco perdido em pensamentos que teimavam em preencher a sua mente.

Não penses nisso, está bem? – ele pediu engolindo em seco. Era o melhor que eles podiam fazer, tentar não pensar naquelas coisas que não os levariam a lado nenhum. Apenas serviam para os deixar mais nervosos do que eles já estavam.

Valerie assentiu um pouco com a cabeça e decidiu não dizer mais nada sobre aquilo, ela sabia que Ashton tinha razão, porém parecia praticamente impossível conseguir afastar aquelas coisas da sua cabeça, pois parecia que eram tudo em que ela conseguia pensar naquele momento.

- Preciso de falar com o Ben. – disse Ashton de repente e rapidamente se levantou da cama.

- Porquê? – a rapariga perguntou, sentando-se depois na cama enquanto o seu olhar permanecia sobre a figura de Ashton. Ele estava agora sentado na beira da cama a calçar os sapatos.

- Preciso que ele me arranje droga.

Assim que aquelas palavras chegaram aos ouvidos de Valerie ela arregalou os olhos e rastejou pela cama até ficar mais perto do rapaz, agarrou no braço dele, puxando-o pela t-shirt branca que ele tinha vestida e fazendo assim com que o rosto de Ashton se virasse na sua direcção.

- Não vais fazer isso. – ela disse de forma bastante lenta, como se quisesse ter a certeza de que ele assimilava bem aquelas palavras que soavam como uma ordem.

Ashton puxou para trás os seus cabelos claros que lhe caiam para a frente dos olhos e depois semicerrou estes.

- Vou sim. – ele disse.

- Não vais nada Ashton. – Valerie falava agora num tom de voz irritado e ele viu-se obrigado a soltar-se da mão dela, quando sentiu as unhas da rapariga a quererem cravar-se na sua pele.

- Vou sim. Eu preciso de droga. Sinto tanto a falta de droga… - aquelas palavras saíram num murmúrio da sua boca e Valerie quase podia dizer que naquele momento a cabeça de Ashton viajou para um lugar bem longe dali. O seu olhar tinha perdido o contacto com o de Valerie e parecia agora distante.

A rapariga voltou a puxá-lo pelo braço, agora de forma mais brusca e os olhos de ambos voltaram a encontrar-se.

- Não Ashton, tu não vais. Eu prometi que não ia voltar a tentar matar-me, então agora tu vais prometer-me que não vais consumir drogas.

- Mas… - Ashton engoliu em seco e suspirou de forma audível.

- Vais prometer Ashton. Agora.

- Eu prometo. – ele acabou por dizer de forma um pouco rude, depois de permanecer algum tempo em silêncio. Voltou a soltar depois o seu braço da mão de Valerie e levantou-se da cama sem dizer mais nada.

A rapariga revirou os olhos, suspirando ao mesmo tempo e saiu também da cama, calçando os seus sapatos. Nunca na vida iria deixar que ele se droga-se, não enquanto ele estivesse com ela. Se ela não podia acabar com a sua vida ele também não poderia fazê-lo.

 

O silêncio entre os dois continuou, mesmo quando foram para a cozinha com o objetivo de comerem algo, visto que já não comiam nada desde o dia anterior. Valerie levantou o seu olhar até ao rapaz antes de se decidir a quebrar o silêncio que perdurava há mais tempo do que ela pretendia.

- Eu gostaria de ir ao cemitério. Por causa da minha irmã.

Ashton parou de comer e de forma lenta olhou para Valerie depois de a ouvir dizer aquilo. Ele podia ver a tristeza presente nos olhos dela e isso deixava-o também triste, pois fazia-o lembrar-se de Ivy e do facto de ela estar morta. Ainda lhe custava a acreditar nisso, parecia ainda algo demasiado impossível de acontecer.

É melhor deixarmos passar alguns dias. – ele acabou por dizer. – Há alguns sítios óbvios onde nos irão procurar em primeiro lugar, e esse deve ser um deles. – um suspiro saiu por entre os lábios dele.

- Sim, tens razão. – Valerie murmurou e de seguida continuou a comer ou a tentar fazê-lo, visto que o seu apetite naquele momento não era muito.

 

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