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More than words.

More than words.

Recovery - 27

 

Os dias continuavam a passar, tão lentos como sempre e sempre todos iguais. Ashton tinha perdido a coragem de voltar ao quarto de Valerie para tentar falar com ela, porém ele tinha-se decidido a não deixar passar mais um dia que fosse. Estava farto de andar por ali, a arrastar-se de um lado para o outro sem saber o que fazer. Ele caminhou pelos corredores e apenas parou de andar quando chegou em frente do quarto de Valerie, bateu logo à porta de forma confiante e ao fim de uns segundos ouviu a voz da rapariga do outro lado daquela porta a dizer que podia entrar. Será que se ela soubesse que era ele quem estava ali, diria na mesma para entrar? Ashton nem se permitiu pensar muito naquilo e abriu logo a porta do quarto.

Valerie sentou-se de forma rápida na cama e engoliu em seco quando os seus olhos foram de encontro à figura de Ashton que estava agora em frente da porta do seu quarto. Ela cerrou os punhos sem saber o que fazer ou dizer e parecia que Ashton estava igual, pois apenas permaneceu em silêncio apenas a olhar para ela durante bastante tempo.

A rapariga começava a sentir-se desconfortável com todo aquele silêncio e a verdade é que Ashton também, e portanto ele avançou alguns passos até ficar mais perto da cama onde Valerie estava ainda sentada.

- Valerie, podemos falar? – ele perguntou num tom de voz mais baixo do que o normal, e sempre à espera que ela começasse a gritar com ele, a dizer-lhe para ir embora e a dizer que o odiava. Mas isso não aconteceu, pois a rapariga apenas se limitou a assentir com a cabeça. – Quero explicar-te tudo o que aconteceu. – ele acrescentou e como Valerie continuou sem dizer nada, o rapaz de olhos claros começou a contar-lhe tudo o que tinha acontecido naquela maldita noite.

Contou todas as coisas, de forma talvez mais detalhada do que a necessária, mas ele sentia uma grande necessidade de lhe contar tudo. Queria que ela o entendesse, queria que o desculpasse e queria ouvi-la dizer que ele não tinha culpa, mesmo que depois disso Ashton fosse continuar a achar que tinha. Os minutos da conversa prolongaram-se por bastante tempo, e Valerie apenas ficou com os seus olhos fixos em Ashton à medida que ele lhe ia contando tudo.

Ashton sentou-se por fim na cama e recostou-se às costas da mesma, quando Valerie se chegou mais para o outro lado, de maneira a dar-lhe espaço.

- Eu não fazia ideia que era ela. – continuou. – Nunca quis saber quem tinha sido, na verdade. Eu apenas queria esquecer aquilo, fingir que nunca tinha acontecido, mesmo que isso fosse algo impossível. – ele encolheu os ombros e virou o seu rosto na direcção de Valerie. – Uns dias antes daquela chamada que ouviste, quando falei com outro amigo ele contou-me. Não sei como eles ficaram a saber, mas a verdade é que ficaram e ele contou-me. Foi só nessa altura que eu fiquei a saber. E nós estávamos a dar-nos tão bem que eu não queria estragar tudo, entendes? Eu não queria que a nossa… amizade, terminasse porque eu estava a começar a habituar-me demasiado à tua presença, estava a começar a sentir-me muito melhor e não queria que isso acabasse. Mas é claro que as mentiras não se conseguem esconder para sempre e acabaste por ficar a saber da pior forma. – ele suspirou. – Desculpa-me Valerie, por favor. – Ashton sussurrou sem deixar que os seus olhos perdessem o contacto com os olhos de Valerie que continuavam fixos nos seus.

- Eu tinha saudades tuas, Ashton. – foi a única coisa que Valerie conseguiu dizer. Engoliu em seco e desviou o seu olhar do dele, focando-o num ponto qualquer à sua frente. – Eu sinto-me tão mal, eu não aguento isto. Não consigo mais viver assim. – ela parou de falar e respirou fundo, tentando engolir as lágrimas que estavam prestes a abandonar os seus olhos. – Quando te prometi que não ia mais tentar matar-me eu juro que estava mesmo determinada a fazer isso, nem que fosse apenas por ti. Quer dizer, depois de fugirmos eu nem sequer pensava nisso, sentia-me bem, sentia-me livre, gostava da tua companhia… Mas depois daquele dia, eu todos os dias penso na melhor maneira de morrer. – ela voltou a olhar para ele. – Acho que eras a única coisa que me estava a manter viva e depois eu perdi isso. – ela sentiu os dedos de Ashton no seu rosto, a limpar uma lágrima que ela nem sequer se tinha apercebido que tinha caído.

- Diz que me desculpas, por favor. – Ashton pediu com um suspiro a abandonar os seus lábios. Queria tanto que as coisas entre eles ficassem bem, ele precisava de Valerie para se manter vivo e sabia que ela também precisava dele para se manter viva.

Valerie ficou calada, e Ashton poderia dizer que foi apenas durante uns segundos mas não foi isso que aconteceu. Ela ficou calada por muito tempo, apesar de não ter um relógio onde pudesse ver as horas, Ashton sabia que ela tinha ficado calado para aí durante uma hora. Ficaram ali os dois em completo silêncio, apenas perdidos nos seus próprios pensamentos. Ele queria falar, pedir-lhe para dizer algo, mas não se atrevia a fazê-lo com medo de voltar a estragar tudo.

- Eu desculpo-te. – ela sussurrou, muito tempo depois. De que servia estar chateada com a única pessoa que ainda se importava com ela? Não era por estar chateada com Ashton que as coisas iriam mudar, Ivy estava morta e nunca nada iria mudar isso. Para além disso ela sabia que Ashton não tinha feito aquilo de forma propositada, não era como se ele tivesse chegado ali e tivesse matado a irmã por querer. E ele estava arrependido do que tinha acontecido e tudo o que lhe tinha acontecido desde então tinha sido o suficiente para ele pagar por aquela noite.

- A sério? – ele perguntou num tom de voz cansado.

- Sim, Ashton. – os lábios de Valerie subiram um pequeno sorriso e depois ela aproximou-se mais de Ashton, rodeou o corpo do rapaz com os seus braços e abraçou-o com força. E nunca ninguém iria conseguir imaginar o quão bem lhe sabia aquele abraço, o quanto era bom abraçar alguém daquela forma, o quanto era bom sentir um peso sair de cima dos nossos ombros e esquecer todos os nossos planos para tentar acabar com a vida.

 

 

Os dias no hospital psiquiátrico continuaram a passar, agora muito melhores tanto para Valerie como para Ashton, que estavam cada vez mais próximos e tinham voltado a passar os dias na companhia um do outro.

Ashton agarrou na mão de Valerie e como viu que o corredor estava livre abriu a porta e de forma rápida puxou a rapariga para o exterior daquele estabelecimento. Um sorriso cresceu nos lábios de Valerie quando percebeu que se estavam a dirigir para o lugar onde Ashton a tinha levado no dia em que ela se tinha, literalmente, passado. Era bom estar ali de novo, e de novo fora das quatro paredes do hospital, visto que se tornava demasiado cansativo passar os dias fechada sem poder respirar o ar puro.

Eles percorreram o pavimento, e nem sequer quiseram saber da chuva que estava a cair sobre eles. Ashton apenas parou de andar quando chegou à parte mais escondida e sentou-se no chão, ignorando o facto de este se encontrar molhado.

Valerie deixou-se ficar de pé, debaixo da chuva com os braços abertos e a cabeça inclinada para trás, como se aquilo fosse algo maravilhoso, e para ela até era.

- Assim vais ficar doente. – Ashton disse ao fim de uns minutos em que ambos se deixaram ficar em silêncio.

- Não faz mal. Tu também vais. – ela encolheu os ombros e afastou para trás alguns fios de cabelo, agora molhados, que lhe caíram sobre o rosto.

- Lembraste da última vez que aqui estivemos e tu estavas toda pessimista?

- Sim, e tu estavas todo filosófico.

Ashton riu-se e encostou a cabeça contra a parede que se encontrava atrás dele.

Já te deste conta de como as coisas mudaram desde aí? O que nós passamos desde esse dia?

Valerie inclinou a cabeça para a frente, de maneira a poder olhar para o rapaz e depois assentiu com a mesma.

Sim, as coisas mudaram muito desde esse dia.

- Continuas tão pessimista? – ele perguntou.

Valerie mordeu o lábio enquanto dava por si a pensar na pergunta de Ashton e também na conversa que tinha tido naquele dia com ele.

- Não. – ela respondeu por fim, ao mesmo tempo que dava por si a sorrir. – Já não me sinto daquela forma. Já não quero afastar as pessoas de mim a toda a hora, porque tal como me disseste naquele dia todos precisamos de sentir dor para quando a felicidade chegar nós a sabermos reconhecer.

Ashton sorriu ao ouvir aquelas palavras, sentindo-se contente por ter conseguido mudar o pensamento de Valerie desde aquela altura. Ele levantou-se e abanou a cabeça, fazendo alguns pingos de chuva abandonarem os seus cabelos claros. Ele andou até ficar em frente a Valerie e sorriu quando ela elevou um pouco a cabeça para poder olhar para ele.

- Nem sabes o quanto é bom ouvir isso. – ele murmurou, pegando numa das mãos dela e unindo-a à sua. – Lembraste de quando eu te disse que só precisavas de arranjar um motivo para o qual valesse a pena viver?

- Sim, eu lembro-me. – Valerie sussurrou.

- Bem, eu não tenho a certeza se já arranjaste algum, mas caso ainda não tenhas arranjado, eu acho que posso dar uma sugestão. – a forma como ele sorriu de seguida fez com que Valerie se começasse a rir, pois nem era preciso ele dizer qual era aquela sugestão para que a rapariga soubesse que ele se estava a referir a si próprio. E a verdade era que Valerie deu por si a pensar que Ashton era um bom motivo para se querer viver.

A sua linha de pensamentos foi quebrada quando sentiu os lábios quentes de Ashton em contato com os seus lábios que estavam gelados devido à chuva fria que continuava ainda a cair sobre os dois.

 

Aqui está o último capítulo! Não gosto nada dele ahah, porque odeio mesmo escrever últimos capítulos, mas pronto. Apesar de ser o último isto ainda não acabou, porque ainda falta o epílogo!!

Beijinhos

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